O temor do pecador e o dia do juízo
"Verão o Filho do homem que virá sobre uma nuvem com grande poder e majestade." Lc 21,27
Uma consideração séria nos ensina que não há atualmente no mundo pessoa mais desprezada de que Jesus Cristo; pois é injuriado tão continuamente e com tão desenfreada liberdade, como não seria o mais vil dos homens. Eis poque o Senhor destinou um dia, no qual virá com grande poder e majestade, a reivindicar a sua honra. Recorramos agora ao trono da divina misericórdia, para que naquele dia não sejamos condenados pela justiça de Deus.
Considerando bem, não há no mundo atualmente quem seja mais desprezado que Jesus Cristo. Trata-se com mais consideração um aldeão do que o próprio Deus. Receiam que o aldeão ao ver-se por demais ofendido, se encolerize e tire vingança; Deus, porém é ofendido incessantemente e de caso pensado, como se não pudesse vingar-se quando quisesse. Por isso o Senhor marcou um dia (chamado com razão, na Escritura Sagrada, o dia do Senhor. Dies Domini), quando vai dar-se a conhecer tal como é: Cognoscetur Dominus iudicia faciens. São Bernardo, explicando este texto: O Senhor será conhecido quando vier a fazer justiça, ao passo que agora, porque quer usar de misericórdia, é desconhecido. Então esse dia não mais se chama de misericórdia e de perdão, senão dia de ira, dia de tribulação e angústia, dia de calamidade e de miséria.
Conforme nos ensina o Evangelho, esse dia será precedido de sinais pavorosos. "Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas, na terra os povos estarão angustiados sob o rugido surdo e confuso do mar e das ondas, os homens morrerão com medo dos males que hão de vir sobre o mundo. Por fim, as virtudes dos céus (isto é, na interpretação dos padres, os nove coros dos Anjos) se comoverão, e então se verá aparecer sobre as nuvens o Filho do homem com grande poder e majestade", a reivindicar a glória que os pecadores nesta terra lhe quiseram tirar.
Diz Santo Tomás: "Se no horto de Getsemani, com as palavras de Jesus Cristo: Ego sum, cairam por terra todos os soldados que o tinham vindo prender, que será, quando Jesus, sentado para julgar, disser ao condenados: "aqui estou, sou eu aquele a quem tanto haveis desprezado"... que será quando pronunciar contra eles a sentença eterna: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno! - Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum!"
O dia do juízo, assim como será para os réprobos um dia de pena e de terror, será, ao contrário, para os escolhidos um dia de regozijo e triunfo, porque, então, à vista de todos os homens, as suas beatas almas serão proclamadas rainhas do paraíso e feitas esposas do cordeiro imaculado. Oh! que ventura experimentarão os bem-aventurados, quando Jesus, voltando-se para a direita, lhes disser: "Vinde, meus benditos filhos, vinde possuir o reino dos céus que vos foi preparado: possidete paratum vobis regnum"!
Irmão meu, o que será de ti naquele dia? São Jeronimo, quando passava os dias na gruta de Belém, em continuas orações mortificações, tremia só em pensar no Juízo universal. O venerável P. Juvenal Ancina, lembrando-se do Juízo ao ouvir cantar a sequência da Missa de defuntos, Dies irae, dies illa, deixou o mundo e fez-se religioso. E tu, o que fazes para mereceres no dia do Juizo as bençãoes divinas, em companhia dos escolhidos?
Com o intuito de nos preparar para o santo Natal, a Igreja propõe hoje o Juízo a nossa meditação. Sabendo que Nosso Senhor, na sua primeira vinda, apareceu num trono de graça e que na segunda aparecerá num trono de justiça de graça e que na segunda aparecerá num trono de justiça rigorosíssima, quer que procuremos agora recorrer a Jesus afim de experimentarmos os efeitos de sua infinita misericórdia. Aproximemo-nos com confianças do trono de graça: Adeamus ergo cum fiducia ad thronum gratiae.
Ah! Jesus meu e meu Redentor, Vós que um dia haveis de ser o meu juiz: perdoai-me antes que chegue esse dia. Agora sois meu Pai, e como tal recebeis na vossa graça um filho que, arrependido, se prosta a vossos pés. Meu Pai, eu Vos amo de todo o meu coração e no futuro não me quero mais afastar de Vós, não quero mais ter a temeridade de voltar a ofender-Vos.
Mas já que conheceis a minha fraqueza, ajudai-me com a vossa graça. "Excite, Senhor, o vosso poder e vinde em meu auxílio, afim de que, mediante a vossa proteção, livrado dos perigos iminentes por causa de meus pecados, mereça ser salvo por Vós." Fazei-o pelo amor de Maria Santíssima.
-Retirado do livro: Meditações para o Advento de Santo Afonso Maria de Ligório Tomo I
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