Dia 7: Os motivos do amor de Maria por nós
Meditação:
Consideremos também as razões deste
amor e melhor entenderemos quanto nos ama essa boa Mãe. A primeira razão do seu
grande amor para com os homens é o seu grande amor para com Deus. O amor a Deus
e o amor ao próximo, como disse S. João, se contêm debaixo do mesmo preceito. “E
nós temos de Deus este mandamento, que o que ama a Deus, ame também a seu irmão”
(1Jo 4,21). De sorte que quanto cresce um, tanto o outro aumenta. Não foi
porque muito amaram a Deus, que tanto fizeram os santos por amor do próximo?
Chegaram ao ponto de expor e perder a liberdade e até a própria vida pela sua
salvação. Leia-se o que fez S. Francisco Xavier nas Índias. Lá galgava
montanhas, enfrentava mil perigos em busca de miseráveis criaturas dentro das
cavernas, onde habitavam como feras. E tudo fazia para converter e socorrer as
almas desses gentios. Um S. Francisco de Sales, quanto não fez para converter
os hereges da província de Chablais! Por espaço de um ano se arriscou a passar
todos os dias um rio, de gatinhas por cima de uma trave gelada, a fim de ir à
outra banda catequizar aqueles obstinados. Para alcançar a liberdade ao filho
de uma pobre viúva, entregou-se um S. Paulino por escravo. S. Fidélis pregava
aos hereges de uma localidade para levá-los a Deus e alegremente perdeu a vida
pregando. Coisas tão grandes fizeram os santos pelo amor do próximo, porque
amavam ardentemente a Deus. Mas quem jamais amou a Deus como Maria? Ela amou-o
mais no primeiro instante da sua vida, do que o têm amado todos os anjos e
santos em todo o decurso da sua existência. Vê-lo-emos mais difusamente, quando
falarmos das virtudes de Maria. A própria Virgem revelou a sóror Maria
Crucifixa quão grande era o fogo de seu amor para com Deus. Nele colocado todo
o céu e toda a terra, em um instante seriam consumidos por suas labaredas.
Disse-lhe também que, em comparação dele, todos os ardores dos Serafins eram
como fresca aragem. Não havendo, portanto, entre os espíritos bem-aventurados
um só que no amor a Deus exceda a Maria Santíssima, não temos nem podemos ter
quem abaixo de Deus mais nos queira, do que essa amorosíssima Mãe. Reuníssemos
nós, enfim, o amor de todas as mães a seus filhos, de todos os esposos a suas
esposas, de todos os anjos e santos para com seus devotos, não igualaria todo
esse amor ao amor que Maria tem a uma só alma. É mera sombra o amor de todas as
mães a seus filhos, quando comparado ao de Maria para conosco, diz o Padre
Nieremberg. Muito mais nos ama ela só, diz o mesmo padre, do que amam uns aos
outros os anjos e os santos. Além disso, nossa Mãe ama-nos muito, porque lhe
fomos entregues por filhos pelo seu amado Jesus. Isto aconteceu quando, antes
de expirar, lhe disse: “Mulher, eis o teu filho”, indicando-lhe na pessoa de S.
João a todos os homens, como já acima dissemos. Foram estas as últimas palavras
que lhe dirigiu o Filho. As últimas instruções, porém, deixadas por entes
queridos na hora da morte, muito se estimam, e jamais se riscam da memória. De
mais a mais somos filhos muito queridos de Maria, porque lhe custamos muitas
dores. Em geral as mães têm mais predileções pelos filhos cuja vida mais
trabalhos e dores lhes custou. Somos nós como estes filhos de dores. Pois Maria
obteve nosso nascimento para a vida da graça, oferecendo à morte, ela mesma, a
amada vida do seu Jesus, consentindo em vê-lo expirar diante de seus olhos, à
força de sofrimentos. Desta grande imolação de Maria nascemos então nós à vida
da divina graça. Somos-lhe por conseguinte filhos mui queridos, porque lhe
custamos muitas dores. Do Eterno Pai diz o Evangelho que amou os homens a ponto
de por eles entregar à morte seu Filho Unigênito (Jo 3,16). O mesmo também, diz
S. Boaventura, se pode dizer de Maria: Tanto amou os homens, que por eles entregou
seu Filho Unigênito. E quando foi que a nós o entregou? Deu-o, diz o Padre
Nieremberg, quando lhe concedeu licença para entregar-se à morte. Deu-o, quando
não defendeu a vida de seu Filho perante os juízes, deixando os outros de a
defender ou por ódio, ou por temor. Pois com certeza as palavras de tão sábia e
desvelada Mãe teriam causado grande impressão, pelo menos sobre o espírito de
Pilatos. E ele não ousaria condenar à morte um homem, do qual ele próprio
reconhecera e declarara a inocência. Mas, não; Maria não quis dizer nem uma só
palavra a favor do Filho, por não impedir a sua morte, da qual dependia a nossa
salvação. Deu-o, finalmente, milhares de vezes, naquelas três horas, em que ao
pé da cruz lhe assistiu à morte. Então com suma dor e com intenso amor para
conosco, estava sacrificando por nós a vida de seu Filho. E era-lhe tanta a
constância, que, se então faltassem algozes, ela mesma o crucificaria para
obedecer à vontade do Eterno Pai, que decretara aquela morte para nossa salvação.
Assim discorrem S. Anselmo e S. Antonino. Já em Abraão vemos um semelhante ato
de fortaleza, querendo sacrificar o filho com as próprias mãos. Ora, devemos
crer certamente que com maior constância o teria executado Maria, mais santa e
mais obediente que Abraão. Mas voltemos ao nosso assunto. Qual não deve ser
nossa gratidão para com Maria Santíssima por tanto amor, por tanto sacrifício
que fez da vida do Filho, com tão grande dor sua, a fim de nos alcançar a salvação?
Largamente remunerou o Senhor a Abraão o sacrifício que quis fazer-lhe do seu
Isaac. Mas nós, que poderemos dar a Maria pela vida que nos deu do seu Jesus,
Filho muito mais nobre e amado que o filho de Abraão? Este amor de Maria muito
nos obriga a amá-la, observa S. Boaventura. Pois não vemos como ela nos amou
mais do que todas as criaturas, como entregou por nós seu Filho único, a quem
amava mais do que a si mesma? Daí resulta um outro motivo do amor da Virgem
para conosco. É que ela sabe que somos o preço da morte de Jesus Cristo. Quanto
não estimaria a um servo a mãe que o soubesse resgatado por seu filho querido,
a preço de vinte anos de penoso cativeiro! Bem sabe Maria que o Filho não veio à
terra senão para salvar-nos, como ele mesmo protestou: Eu vim salvar o que
tinha perecido (Lc 19,10). E para salvar-nos despendeu até a própria vida,
fez-se obediente até a morte na cruz. Se Maria nos amasse pouco, mostraria que
pouco amava o sangue do Filho, que é o preço da nossa salvação. Foi revelado a
S. Isabel da Hungria que a Virgem, durante sua estadia no templo, toda se
entregava em rogar a Deus se dignasse apressar a vinda de Jesus Cristo. Ora,
tanto maior devemos julgar seu amor para conosco, depois que viu quanto valemos
para seu Filho, que se dignou resgatar-nos por um preço tão elevado. (Santo
Afonso de Ligório)
Oração:
Ó doce Soberana, vós, conforme a expressão de S. Boaventura, arrebatais os corações dos que vos servem, cumulando-os de vossa ternura e liberalidade. Eu vos suplico: arrebatai-me também o meu pobre coração que muito deseja amar-vos. Pela vossa beleza, ó minha Mãe, atraístes o vosso Deus, ao ponto de fazê-lo descer do céu à terra; e eu viverei sem vos amar? Não; antes vos digo com vosso amante filho João Berchmans: “Não me darei repouso, enquanto não tiver obtido amor terno e constante a vós, ó minha Mãe”, que com tanta ternura me tendes amado, ainda quando eu não vos amava. E que seria de mim, se vós, ó Maria, não me tivésseis amado e alcançado tantas misericórdias? Se, pois, me amastes quando eu não a amava, que devo esperar da vossa bondade agora que vos amo? Sim, amo-vos, ó minha Mãe, e quisera ter um coração capaz de vos amar por todos os infelizes que não vos amam. Quisera ter uma língua capaz de louvar-vos por mil línguas, para fazer conhecer a todo mundo a vossa grandeza, a vossa santidade, a vossa misericórdia, e o amor com que amais os que vos amam. Se tivera riquezas, todas quisera empregar em vos honrar; se tivera súditos, todos quisera fossem cheios de amor para convosco; quisera enfim sacrificar pelo vosso amor e glória, se fosse mister, até a minha vida! – Amo-vos, pois, ó minha Mãe; mas ao mesmo tempo receio que vos não ame, porque ouço dizer que o amor faz os que amam semelhantes à pessoa amada. Devo então crer que bem pouco vos amo, vendo-me tão longe de parecer convosco. Vós sois tão pura, eu tão imundo! Vós tão humilde, eu tão soberbo! Vós tão santa, eu tão mau! Mas isto, ó Maria, é o que vós haveis de fazer: já que me tendes tanto amor, tornai-me semelhante a vós. Para mudar os corações, tendes todo o poder; tomais, pois, o meu e mudai-o. Conheça o mundo o que podeis em favor dos que amais. Tornai-me santo e fazei-me digno filho vosso. Assim espero, assim seja.
-Pedir
a graça que deseja alcançar e rezar o Santo Terço ou Rosário-
Votos:
- Não assistir televisão;
- Abster-se de alguma refeição;
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“Muito alcançastes, Muito merecestes, Porque muito amastes, Muito padecestes: Virgem que nos destes O Autor da vida, Virgem escolhida.” |
Salve Maria Imaculada!
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