Dia 26: O demônio tem medo da Mãe de Deus!
Meditação:
Não só do céu e dos santos é Maria Santíssima
Rainha, senão também do inferno e dos demônios, porque os venceu valorosamente
com suas virtudes. Já desde o princípio do mundo tinha Deus predito à serpente
infernal a vitória e o império que sobre ela obteria nossa Rainha. “Eu porei
inimizade entre ti e a mulher; ela te esmagará a cabeça” (Gn 3,16). Mas que foi
esta mulher, sua inimiga, senão Maria, que com a sua profunda humildade e santa
virtude sempre venceu e abateu as forças de Satanás, como atesta S. Cipriano? É
para se notar que Deus falou “eu porei” e não “eu ponho” inimizade entre ti e a
mulher. Isto faz para mostrar que a sua vencedora não era Eva, que já então
vivia, mas uma sua descendente. Esta devia trazer a nossos primeiros pais, como
diz S. Vicente Ferrer, um bem maior do que aquele que tinha perdido com o seu
pecado. Maria é, portanto, essa excelsa mulher forte que venceu o demônio
e, em lhe abatendo a soberba, lhe esmagou a cabeça, conforme as palavras do
Senhor: Ela te esmagará a cabeça. Duvidam alguns se estas palavras se referem a
Maria ou a Jesus Cristo, porque os Setenta9 traduzem autós, isto é, ele esmagará a tua cabeça.
Mas em nossa Vulgata (única versão da Sagrada Escritura aprovada pelo Concílio
de Trento) lê-se ipsa, ela, e não ipse, ele. Assim também o
entenderam S. Ambrósio, S. Jerônimo, S. Agostinho e muitíssimos outros. Mas,
como quiserem, é certo que, ou o Filho por meio da Mãe, ou a Mãe por virtude do
Filho, venceu a Lúcifer. Este espírito soberbo foi, portanto, para sua
vergonha, calcado aos pés por esta Virgem bendita, na frase de S. Bernardo, e
como prisioneiro de guerra é obrigado a obedecer sempre às ordens desta Rainha.
Diz S. Bruno de Segni que Eva, vencida pela serpente, nos trouxe a morte e as
trevas. Maria, porém, vencendo o demônio, nos trouxe a vida e a luz. E de tal
modo o atou, que ele não pode mais se mover para causar o menor dano aos seus
devotos. É bela a explicação que dá Ricardo de S. Lourenço ao trecho dos Provérbios:
“O coração do homem (isto é, de Cristo) põe nela a sua confiança e ele não
necessitará de despojos” (31,11), pois Maria enriquece seu Filho com os despojos
que arranca ao demônio. Deus confiou a Maria o Coração de Jesus para que ela o
faça amar pelos homens, comenta Cornélio a Lápide, e assim não lhe faltarão
despojos, isto é, almas conquistadas. Porque Maria o enriquece de almas, das
quais despoja o inferno, livrando-as do demônio com o seu poderoso socorro. É a
palma um conhecido símbolo de vitória. Por isso foi nossa Rainha colocada num
alto trono, à vista de todos os potentados celestes, como palma em sinal de
segura vitória, que a si mesmos podem prometer-se todos aqueles que se põem
debaixo do seu patrocínio. “Eu lancei em alto os meus ramos como a palmeira em Cades”
(Eclo 24,18), isto é, acrescenta S. Alberto Magno, eu estendo minha mão sobre vós
para vos proteger. Filhos, parece Maria nos dizer, quando o demônio vos
assaltar, recorrei a mim, olhai para mim e tende ânimo, porque em mim, que vos
defendo, vereis juntamente a vossa vitória. Por isso o recorrer a Maria é um
meio seguríssimo para vencer todos os assaltos do inferno. Ela é também Rainha
do inferno e senhora dos demônios, pois que os subjuga e doma, diz S.
Bernardino de Sena. Daí vem ser Maria chamada “terrível como um exército em
ordem de batalha” (Ct 6,3). Pois sabe ordenar bem o seu poder, a sua misericórdia
e os seus rogos para a confusão dos inimigos e benefícios dos seus servos, que
nas tentações invocam o seu poderosíssimo nome. “Semelhante à vinha dei frutos
de suave dor” – fá-la dizer o Espírito Santo (Eclo 24,23). Aqui observa S.
Bernardo: Dizem que toda serpente venenosa foge das vinhas em flor; assim fogem
os demônios das almas afortunadas em que sentem o perfume da devoção de Maria.
Ela é comparada também ao cedro: Crescendo, me elevei como o cedro do Líbano
(Eclo 24,17). À semelhança do cedro que é incorruptível, ficou também Maria
isenta do pecado. E como o cedro afugenta com seu odor as serpentes, observa o
Cardeal Hugo, com sua santidade Maria afugenta os demônios. Por meio da arca os
israelitas obtinham suas vitórias nos combates. Graças a ela triunfaram de seus
inimigos, sob Moisés. E quando se elevava a arca, dizia ele: Levanta-te,
Senhor, e dissipem-se os teus inimigos! (Nm 10,35). Assim foi tomada Jericó,
assim foram desbaratados os filisteus, porque a arca de Deus estava naquele dia
com os filhos de Israel (1Rs 14,18). Ora, como se sabe, era a arca figura de
Maria. Assim como na arca estava o maná, observa Cornélio a Lápide, no seio de
Maria estava Jesus, de quem o maná foi figura. Por meio desta arca concede-nos
ele a vitória sobre o mundo e o inferno. Isto motiva as palavras de S.
Bernardino de Sena: Quando Maria, arca do Novo Testamento, foi exaltada nos céus
como Rainha, ficou abatido o poder do demônio sobre o homem. Oh! quanto tremem
de Maria e de seu grande nome os demônios do inferno! observa Conrado de Saxônia.
Ele os compara àquele inimigo de que fala Job: Arromba nas trevas as casas...;
se de súbito aparece a aurora, crê que é a sombra da morte (24, 16, 17).
Aproveitando as trevas, vão os ladrões roubar nas casas, mas, quando surge a
aurora, fogem como se lhes aparecesse a imagem da morte. Assim também, continua
Conrado, penetram os demônios na alma, quando a obscurece a ignorância. Mas, no
momento em que surge a aurora, isto é, a graça e a misericórdia de Maria,
dissipam-se as trevas e dela fogem os inimigos infernais, como diante da morte.
Bem-aventurado, pois, aquele que nos assaltos do inferno invoca sempre o belo
nome de Maria! Para confirmar o que dizemos, sirva uma revelação feita a S. Brígida.
Deus concedeu a Maria um poder muito grande sobre todos os demônios. Sempre que
eles atacam algum devoto da Virgem, e este a invoca em seu auxílio, basta um
aceno de Maria para que fujam aterrorizados. Preferem até ver redobrados os
seus suplícios a sentirem-se dominados pelo poder de Maria. O celeste Esposo
louvou esta sua Esposa e chamou-lhe lírio, dizendo: Como o lírio entre os
espinhos, assim é minha amiga entre as virgens (Ct 2,2). Como o lírio é um antídoto
contra as serpentes e os venenos, reflete Cornélio a Lápide, assim é a invocação
do nome de Maria, singular remédio para vencer todas as tentações,
especialmente contra a pureza, como o ensina a experiência. Cosmas de Jerusalém
assim se dirige a Maria: Ó Mãe de Deus, se confiar em vós, não sereis
certamente vencido; pois, defendido por vós, perseguirei meus inimigos;
triunfarei com certeza, opondo-lhes como escudo a vossa proteção e o vosso
onipotente patrocínio. Entre os Padres Gregos escreve Jacob, monge: Senhor, vós
nos destes nesta Mãe poderosíssima arma com a qual vencemos seguramente todos
os nossos inimigos. Lemos no antigo Testamento que o Senhor guiava o seu povo
na saída do Egito, de dia por meio de uma coluna de nuvem, e à noite por uma
coluna de fogo (Êx 13,21). Esta maravilhosa coluna, ora de nuvem ora de fogo,
era, no dizer de Ricardo de S. Lourenço, figura de Maria e dos dois ofícios que
exerce continuamente para nosso bem. Como nuvem protege-nos dos ardores da divina
justiça; como fogo defende-nos contra os demônios. Assim como a cera se derrete
ao calor do fogo, acrescenta Conrado da Saxônia, também perdem os demônios toda
a força sobre as almas que, lembradas do nome de Maria, a invocam com frequência
e principalmente procuram imitá-la.
(Santo Afonso de Ligório)
Oração:
Aqui está aos vossos pés, Mãe de meu
Deus e minha única esperança, um miserável pecador que tantas vezes por suas
culpas se tem tornado escravo do inferno. Reconheço que de mim triunfou o demônio,
porque não recorri, ó meu refúgio, ao vosso auxílio. Se eu vos tivesse chamado
sempre em meu socorro, se vos houvesse invocado, jamais teria perecido. Eu
espero, amabilíssima Senhora, por vossa intercessão ter já saído das mãos do
demônio e ter obtido de Deus o perdão. Receio, entretanto, vir para o futuro a
cair novamente em pecado. Sei que meus inimigos não perderam a esperança de
tornar-me a vencer e me estão preparando novos assaltos e tentações. Ah! minha
Rainha e meu refúgio, ajudai-me; tomai-me sob vosso manto e nunca permitais que
eu torne a ser presa do inferno. Sei que sempre me haveis de valer e dar vitórias
todas as vezes que vos invocar. Temo, contudo, que nas tentações me esqueça de
chamar-vos em meu socorro. Eis, portanto, a graça que vos imploro e de vós
espero, ó Virgem Santíssima. Fazei que sempre vos tenha presente à memória,
especialmente nas lutas contra as tentações. Ajudai-me para que então vos diga
muitas vezes: Maria, valei-me, valei-me, ó Maria. E quando chegar finalmente o
dia de minha última luta com o inferno, na hora da morte, assisti-me então, ó
minha Rainha, de modo especial. Fazei vós mesmas que eu me lembre de
invocar-vos sem cessar, com a boca ou com o coração, para que, expirando com
vosso dulcíssimo nome e o de vosso Filho Jesus nos lábios, possa ir vos bendizer
e louvar, e nunca mais separar-me de vossos pés, por toda a eternidade no paraíso.
Amém.
-Pedir
a graça que deseja alcançar e rezar o Santo Terço ou Rosário-
Votos:
- Recitar o Magnificat;
- Oferecer o dia pelos blasfemadores;
“Ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria, Rogai por nós, santa Mãe de Deus!” |
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